Os
deuses, no céu ou na penumbra, brindam-nos frequentemente
com a sua eterna ingratidão. Deleitam-se com a obra das nossas vidas e
não
pagam nada por isso. Mas, por alguma razão, o cenário é sempre perfeito. Na
relatividade das coisas, as vaidades desajeitadas, as desproporções
físicas, a
falta de agilidade, o descuido involuntário, a timidez, a solidão, uma
rosácea, as cicatrizes, a calvície, a falta de atrevimento, uma sombra... tornam os
seres desinteressantes e, por demais, misteriosos e atraentes. Quando nos
debruçamos sobre eles, assim de mansinho, sem os assustar, quando ouvimos as sombras das suas dúvidas, a luz das suas vozes, longe de qualquer caminho, entendemos de uma forma muito justa que a beleza é um
preconceito infantil. Há, escondidas nessas pessoas, a consistência do vasto e
escuro universo, a fasquia das intocáveis estrelas e a possibilidade legítima
de um horóscopo da vida e do amor
quinta-feira, 8 de outubro de 2020
Os deuses que há
Edward Hopper - Night shadow
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