Summertime - E. Hopper
a
antítese parece-me bem. se um único rosto, um só, for vedado a um homem
livre, será esse, então, o seu cativeiro. a contenção, a reclusão, o
desterro, a espera sempre foram apanágios de sábios e de heróis épicos.
não há lugares certos para se estar confinado... houvesse, seriam apenas
lugares comuns a certas horas. se Ulisses esteve preso no exterior, à
espera que as Parcas lhe abrissem as portas do destino para voltar a
entrar em Ítaca, Penélope prendia-se, por amor, ao entrelaçado infinito
de uma prima obra artesanal (um sudário, dizem) na reclusão de um reino,
precisamente nessa mesma porção de ilha, Ítaca. diz Ovídio que ela terá
escrito uma carta pouco provável ao esposo onde o culpava de se
preocupar mais com o deus da guerra do que com ela. este é o lado
irrisório da condição humana: "o mito do outro"