O conhecimento traz frequentemente com ele a imediatez da nostalgia, da melancolia, de um inexplicável mal-estar que se prolonga até à incompreensão do sentido da vida. Por outro lado, a dinâmica, muitas vezes exagerada e irracional que emana da alegria, parece averbar o sentido lógico de uma normalidade que se expande, também ela, sob a forma de tristeza como fruto de uma capacidade cognitiva que formula, não raras vezes, a possibilidade de não sermos daqui
quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
sábado, 11 de dezembro de 2021
Proust
Lire Proust c'est un peu rêver sa vie. Non que l'on veuille la vivre comme dans ses écrits, mais à lire ses œuvres on se met à songer et, par le songe, à vivre avec plus d'intensité, dans le sens où l'on comprend mieux ce qui nous est arrivé et que ces petits actes insignifiants que l'on croyait nôtres et dont souvent on avait honte de parler de peur que les autres n'en rient ou ne les trouvent invraisemblables, étaient en fait universelles et perduraient dans le temps, à répétition, de génération en génération
domingo, 28 de novembro de 2021
De la densité
quarta-feira, 24 de novembro de 2021
Velocidade de Escape
Há esses desconfortos que a gravidade provoca. Um certo entorpecimento, um certo desgaste, uma sensação física e mental metafóricas do tempo que passa e consegue encafuar-se entre os dias
sábado, 16 de outubro de 2021
À espera do tempo
O tempo é um devasso. Entretém-se com coisas insignificantes, leves pormenores, dissabores de migalhas, impercetíveis tiquetaques, malas de idades, relativas passagens, múltiplos ângulos... Não me engana o tempo, és a rapariga jovem e clara de sempre numa frágil dança do acaso. Isso, a mesma, na frenética porta de Alcalá, na austera porta de Brandenburgo ou às portas do Sol
quarta-feira, 15 de setembro de 2021
Créatif
Parfois, se planter c'est créer du neuf dans le sens le plus inattendu et donc dans le sens le plus créatif
sábado, 11 de setembro de 2021
L'attente ou le prolongement du silence
Vous savez, il y a ces moments où on s'arrête, où on cesse de créer un sens, où le silence se prolonge vers l'attente. Et puis, on ne sait plus trop quand, il y a la note, l'accord parfait qui paraît nous sauver. Cependant, toute la beauté du mélodieux était dans ce surcroît de silence, d'inactivité excessive avant l'action
sábado, 17 de julho de 2021
16 - L' Amour Au Temps Du Corona
sexta-feira, 9 de julho de 2021
Ulisses III
"Quê?..." "...Se ainda tinhas os olhos verdes." "Eu?" "Sim!" "Eu nunca tive os olhos verdes!" "Como assim?" "Isso era o outro!" "Quem?" "O Aquiles!" "E quê, Bebemos mais um copo?" "Gosto da figura de retórica, manda vir tu"
Ulisses II
Desta vez foi um telefonema. Depois da apneia, houve um som ancestral. Um profundo e magmático suspiro e o silêncio. Uma onda de vento. Uma carícia, como o mar que bate na seda arenosa. A voz emergiu por entre o entrelaçado do linho "Os olhos de Ulisses continuam verdes?" "Deve ser engano"
Ulisses
Hoje, num café qualquer, encontrei Ulisses. O verdadeiro. Estava a fumar e de olhar vago. Hesitei, mas coisas destas não acontecem todos os dias, fui ter com ele e perguntei-lhe: "então pá! a persona?" O homem engasgou-se, tossiu e olhou-me fixamente nos olhos. O olhar de um semideus é intrigante. Havia ali todo o mar Jônico? Mediterrâneo? Talvez. "Senta-te e bebe um copo!", ordenou. Aceitei, claro. "Que deuses honras?", perguntou. "Que sei eu! Depende das horas e do amanhã!" Foi então que aquilo aconteceu, a acronia. Odisseu, o semihomem, começou a falar em latim "Carpe diem, quam minimum credula postero". "E tu conheces Horácio?" "Muito antes de ele me conhecer a mim!" No fim da conversa, deitei a mão ao bolso, mas com a nobreza de um rei não se brinca. Disse o homem: "Pago eu"
domingo, 14 de março de 2021
2020
Foi maravilhoso. Os deuses ousaram transpor os limites dos seus reclusos áditos, passaram a ponta dos seus perfeitos narizes por uma das fendas do véu finíssimo do limbo e pisaram solo humano onde se morre. Foi misterioso. Em algumas ocasiões, houve a possibilidade da sua presença, assim, de frente, de lhes ver a boca a articular palavras - o som da voz - e também a sua ligeireza de uns passos que voam. Algumas vezes, fomos perdendo o norte, voltados para sul, e eles não nos seguiram. Noutras, fomos perdendo os seus nomes, por olvido ou por vergonha de os vozear, ou por respeito - Marte, Júpiter, Saturno, Clemência. Depois, foi o silêncio. O mais belo de todos os silêncios - chama-se Espera. Que sei eu disso? Tanta coisa, que nem sei como cabe cá dentro o Universo
domingo, 31 de janeiro de 2021
Confinamento
Summertime - E. Hopper
a
antítese parece-me bem. se um único rosto, um só, for vedado a um homem
livre, será esse, então, o seu cativeiro. a contenção, a reclusão, o
desterro, a espera sempre foram apanágios de sábios e de heróis épicos.
não há lugares certos para se estar confinado... houvesse, seriam apenas
lugares comuns a certas horas. se Ulisses esteve preso no exterior, à
espera que as Parcas lhe abrissem as portas do destino para voltar a
entrar em Ítaca, Penélope prendia-se, por amor, ao entrelaçado infinito
de uma prima obra artesanal (um sudário, dizem) na reclusão de um reino,
precisamente nessa mesma porção de ilha, Ítaca. diz Ovídio que ela terá
escrito uma carta pouco provável ao esposo onde o culpava de se
preocupar mais com o deus da guerra do que com ela. este é o lado
irrisório da condição humana: "o mito do outro"
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
Un monstre à fables
Moonlight Etchings - Martin Lewis
Pendant un long moment, les nuées ont atténué la poudre lumineuse des étoiles, les éclats de rire, les bouches radieuses de l'été. Rien n'a pété aux yeux. C'était assez décevant et puis la pluie est partie, les étoiles sont revenues, les astres passent. Jupiter éclipse Saturne, Mars suit... Leur distance évoque en moi un temps passé: le passé décomposé. La merde quoi. C'était hier. Je m'y retrouve quand même. Il a fait assez sombre ces derniers temps. C'est d’ailleurs pour ça que je comprends mieux la nuit. La nuit est ce mystérieux personnage de l'enfance. Un monstre. Un monstre affable. Il nous berce. Il nous fait peur. Il nous accable de sa présence. Il nous manque. Il nous parle de futur, de silence, d'endroits inconnus soumis à l’effroi. Il s'enfouit en nous, il y reste un temps pour y faire le décapage, nous dire: "tu vois, ils ont fermé leur grande gueule"