domingo, 14 de março de 2021

2020

 

Foi maravilhoso. Os deuses ousaram transpor os limites dos seus reclusos áditos, passaram a ponta dos seus perfeitos narizes por uma das fendas do véu finíssimo do limbo e pisaram solo humano onde se morre. Foi misterioso. Em algumas ocasiões, houve a possibilidade da sua presença, assim, de frente, de lhes ver a boca a articular palavras - o som da voz - e também a sua ligeireza de uns passos que voam. Algumas vezes, fomos perdendo o norte, voltados para sul, e eles não nos seguiram. Noutras, fomos perdendo os seus nomes, por olvido ou por vergonha de os vozear, ou por respeito - Marte, Júpiter, Saturno, Clemência. Depois, foi o silêncio. O mais belo de todos os silêncios - chama-se Espera. Que sei eu disso? Tanta coisa, que nem sei como cabe cá dentro o Universo